segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

QUER PUBLICAR?

COLETÂNEA "TANTAS PALAVRAS..."


O que é?
Uma coletânea de textos de autores diversos, a partir dos gêneros contos e crônicas, com temática livre.

Quem pode participar?
Qualquer escritor, quer tenha ou não outros livros publicados. Aliás, a coletânea cumpre dois objetivos: (1º) divulgar textos literários de qualidade na forma impressa e (2º) oportunizar àqueles escritores que não têm condições de publicar uma obra solo, mas que querem ver seus textos impressos em forma de livro.

Qual o formato dos textos?
Os textos devem ser crônicas ou contos (em prosa, portanto), entre 2000 e 2500 caracteres, já contando com espaços (é preciso que se respeite esse número), em fonte Times New Roman, 12. Breve rodapé com currículo do escritor (máximo três linhas, sem foto).

Qual o valor do investimento?
Cada escritor poderá publicar um texto, no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), com direito a dois livros, (formato 18x25cm, capa colorida, miolo 1 cor).

Como devo proceder?
Os escritores interessados deverão encaminhar o texto para aluceni@hotmail.com, de acordo com os critérios propostos acima, até 30 de março de 2011 (prazo máximo para realizar o pagamento da participação). Caso resida fora de Araçatuba e queira participar, solicitar número de conta bancária para efetuar o depósito.

PARTICIPE E AJUDE DIVULGANDO!


Antonio Luceni
Coordenador Regional da UBE

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

NOVO ASSOCIADO

O escritor Jordemo Zaneli Junior, da cidade de Buritama/SP, é o mais novo associado do Núcleo UBE Araçatuba e região.
Seja bem-vindo, Jordemo.

BIOGRAFIA

Jordemo Zaneli Junior

Nascido em 1964, Jordemo é advogado. Pós-graduado em Direito Empresarial e em Marketing e Propaganda, com grande experiência em Administração Pública, onde assessorou diversos órgãos públicos por 20 anos. Foi integrante do Partido Comunista do Brasil – PCdoB, no final da década de 70 e 80. Tem trajetória marcante na sua experiência de lutas políticas. De presidente do Grêmio Estudantil da Escola “Oswaldo Januzzi”, em Buritama-SP, a candidato a Deputado Estadual, foi presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito de Araçatuba e vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo em 84/85. Ainda como Advogado, acumula expressiva quantidade de atuações em complexos processos criminais, somando, 52 atuações em Tribunais de Júri.

Publicou em 2005, pela Editora e Gráfica Global, Sun Tzu – A arte da guerra e a dialética, com prefácio do Deputado Federal Aldo Rebelo. O livro é fruto de seus estudos na área de marketing relacionados à filosofia, trata do planejamento estratégico de empresas e carreiras profissionais.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

VIDA CACHORRA

Joaquim Maria Botelho

O cheiro açucarado de cocada cozida enjoava o estômago. Mas demorou vários minutos para que identificar o aroma. Abriu os olhos devagar, aturdido ainda. Tinha o corpo todo dolorido. Lambeu, para umedecê-los, os beiços secos, repuxados. Os olhos pareciam pregados; era difícil mantê-los abertos. Além disso, a luz ofuscava. Era dia alto, nem sabia que horas seriam. Gente passava, no burburinho da margem do rio, mas não lhe prestava atenção. Na calçada, do outro lado da rua, a baiana começava o pregão, remexendo na panela os pedaços de coco misturados a muito açúcar, derretido no fogareiro.

“Olha a cocaaaada! Coco puro, cocada feita na hora! Esse menino, num vai levar uma cocada pra mãínha?”

A calçada era dura, irregular, suja, mas não conseguia se levantar. Esforçou-se duas vezes e não pôde. Sentia-se tonto. Resignou-se a ficar mais algum tempo deitado. Decerto se refaria em poucos minutos. Ia esperar. Repousaria ainda um pouco. Ou quem sabe o que queria mesmo era aproveitar mais um tantinho daquela sensação de abandono? Tentou não se apavorar. Especialmente com as lembranças da madrugada. Aqueles homens que ele imaginava boas pessoas agiram com ele como animais. Espancaram-no, escorraçaram-no. Órfão desde muito, nada lhe restara do apoio da família. Irmãos ele os tivera, mas quem sabia por onde andavam, se ainda viviam ou se eram felizes?...

A surra começara por um sanduíche. Tinha fome, quisera apanhar a comida e alguém o surpreendera, correndo na sua direção com cabo de vassoura e facão. Correra, prudentemente; melhor fugir, quando se percebe que a outra parte não quer saber de conversar. E com os argumentos que os homens carregavam nas mãos, não havia muito que dizer. Na fuga, tombos e pedrouços o machucavam. Caía, era alcançado e espancado. Conseguia fugir de novo, mas de novo uma pedra o acertava e ele parava, sofrendo outra surra. Até desistirem, estava meio morto. Sangravam-lhe as costas. As lascas de um dente quebrado cortavam-lhe a língua, de cada vez que procurava umedecer os beiços. Que mundo! Ele só tivera fome, só quisera comer alguma coisa, sem magoar ninguém!...

A baciada de água suja o apanhou em cheio. Passou-se um milésimo de segundo entre o bem-estar de ter sido molhado e o incômodo de se ver coberto pela água imunda, usada para lavar coco sapecado, colher de pau, mão de baiana e sabe Deus que mais. Preparava-se para reclamar; não teve tempo: a baiana arremetia aos berros pra cima dele. “Seu vagabundo, seu cachorro! Vai espantar minha freguesia, seu coisa! Espavente daqui!”

Ergueu-se, devagar, humilde, arrasado. Procurou se arrastar para longe da megera, mas as forças ainda não haviam voltado, e ele se deixou cair ao chão, pesadamente. Não demorou muito, um carro da Prefeitura apareceu e ele foi rudemente apanhado do chão e jogado para cima da carroceria. Ninguém sequer prestou atenção às suas feridas, ao seu estado. Ele era uma coisa. Um animal, por assim dizer. Estava moído, e cada sacolejo do carro multiplicava por mil as suas dores. Gemia, mas de nada adiantava. Nenhum dos homens lhe dava ouvidos.

A viagem durou horas. Ou metros. Quando o automóvel parou, estava meio desmaiado. Despertou mal-e-mal quando abriram a porta.

Agarraram-no pelos membros e foi jogado numa espécie de vala, como um cadáver. Tentou reagir, erguer-se, defender-se, mas era tarde. Os homens apontaram as armas e começaram a atirar.

Só conseguiu ganir baixinho. Um primeiro tiro arrancou-lhe a cauda. Ainda arreganhou os dentes, mas o segundo tiro varou-lhe o pescoço. Estrebuchou e morreu.

Joaquim Maria Botelho é jornalista, tradutor e professor. É presidente da União Brasileira de Escritores – UBE.

domingo, 23 de janeiro de 2011

BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE REABRE DIA 25 DE JANEIRO



Após obras completas de modernização e restauro, a Biblioteca Mário de Andrade será entregue à população no dia do aniversário da cidade. A reabertura da biblioteca contará com uma intensa programação cultural com diversas atividades.

No próximo dia 25 de janeiro, a cidade de São Paulo terá, além de seu aniversário de 457 anos, mais um motivo para celebrar. Nesta data será completamente reaberta a Biblioteca Mário de Andrade, segunda maior do país, que passou por modernização e restauro, tendo suas obras iniciadas em setembro de 2007. Ao todo, mais de 327 mil livros da coleção geral, dentre os quais 51 mil considerados raros ou especiais, estarão novamente à disposição para consultas. Além da biblioteca, a Praça Dom José Gaspar, onde ela está localizada, passou por uma revitalização e recebeu novo projeto paisagístico.

O Plano Integrado de Modernização e Restauro da Biblioteca Mário de Andrade, realizado ao custo de R$ 16,3 milhões, com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, órgão ao qual a Biblioteca é vinculada.

A primeira etapa do plano foi concluída no primeiro semestre de 2010 e permitiu a reabertura da Circulante, em julho do mesmo ano. Entre julho e dezembro de 2010, a seção Circulante recebeu 89.540 pessoas e emprestou mais de 21 mil obras. No espaço da Circulante, encontram-se, além da coleção de 42.525 obras disponíveis para empréstimo, a coleção São Paulo, a coleção de Referência e uma amostra da Coleção ONU.

Inaugurada em 1926, a Biblioteca Mário de Andrade chegou a ocupar antes um edifício na rua 7 de abril. O atual prédio principal da biblioteca, para o qual ela se mudou em 1943, conta com 12.032 metros quadrados e foi projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon na década de 1930 ao estilo art déco. Seu tombamento pelo Conpresp (Conselho Municipal de Patrimônio Histórico) saiu em 1992.

As obras de modernização e restauro possibilitaram o restaruro da fachada, a impermeabilização das lajes da cobertura, a modernização das redes internas de infraestrutura lógica e elétrica, a readequação dos andares de armazenamento do acervo com mecanismos de proteção ambiental, a ampliação da área de armazenamento de coleções de obras raras e de artes; a construção de mezanino para a guarda do acervo da Circulante, com acesso independente; o restauro dos móveis originais; a redistribuição das áreas técnicas e administrativas, a implantação de soluções de acessibilidade universal e a reconstituição das três mais importantes salas da área de consulta: atualidades, artes, obras raras e coleção geral.

Entre fevereiro e julho de 2009, o acervo geral da Biblioteca Mário de Andrade, composto de 200 mil exemplares, passou por uma desinfestação inédita ao custo de R$ 700 mil, recursos oriundos do orçamento da Secretaria Municipal de Cultura.

No dia 25, todos os espaços de atendimento da Biblioteca estarão em funcionamento, com horário excepcional, das 12h às 18h, e haverá uma intensa programação cultural que inclui visitas guiadas, lançamentos de livros e apresentações musicais, dentre as quais se destacam o Coral Paulistano e o Quarteto de Cordas do Teatro Municipal, ambos corpos artísticos do Teatro Municipal de São Paulo. Além disso, será relançado o livro Memória Paulistana com impressão da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, com projeto gráfico de Emilie Chamie.

Revitalização da Praça Dom José Gaspar

A Praça Dom José Gaspar, que abriga a Biblioteca Mário de Andrade, recebeu novo paisagismo, como forma de acompanhar a revitalização da biblioteca. Com investimento de R$ 500.983,97, oriundos do orçamento da Secretaria Municipal de Cultura, foi executado o projeto elaborado pelo arquiteto André Graziano em toda a área da praça, que possui 2.915 metros quadrados.

O projeto de paisagismo foi idealizado com o intuito de permitir que os canteiros da praça possam ter vegetação ornamental, rústica e de baixo custo de conservação, mas que possam chamar a atenção das pessoas pela beleza de suas cores, texturas, formas e perfumes. Foram selecionadas 18 espécies de plantas, entre as quais, bromélias-imperiais, lambaris, bananas-bravas, entre outras. Ao todo, serão plantadas 25 mil mudas.

O projeto também contempla implantação de um deck de madeira como extensão da área de leitura externa da biblioteca; piso podátil para passeio, ideal para pessoas portadoras de deficiência visual e troca de toda a orla de concreto e do gradil da praça.

Para celebrar a inauguração das melhorias na praça, realizadas pela Secretaria Municipal de Cultura, a partir das 13h, o palco na Rua Bráulio Gomes, ao lado da Biblioteca, recebe Walter Franco e, logo em seguida, Naná Vasconcelos, o pianista Fabiano Araújo e o contrabaixista norueguês Arild Andersen que integram o projeto Rheomusi.

A programação especial de reabertura da biblioteca se estenderá pelos próximos meses e oferecerá como carro-chefe o ciclo São Paulo: seus povos e suas músicas, que celebrará a diversidade cultural da cidade de São Paulo por meio de encontros semanais que vão tratar dos diferentes grupos de imigrantes que compõem a cidade. Os encontros consistem de palestras de especialistas e apresentações musicais. A curadoria musical é da pesquisadora e intérprete Anna Maria Kieffer.


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

BUSCA E AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE LITERÁRIA DO BRASIL


Joaquim Maria Botelho
Presidente da União Brasileira de Escritores - UBE

Frankfurt, 04 de outubro de 2010


O LAÇO E O ABRAÇO - Mário Quintana

Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...
Uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e
pronto: está dado o laço.

É assim que é o abraço: coração com coração, tudo
cercado de braço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
Vai escorregando...
Devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
E saem as duas partes, iguais meus pedaços de fita, sem
perder nenhum pedaço.

Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!


Comecei com este exemplo, do gaúcho Mário Quintana, para mostrar que a literatura brasileira, desde os seus primórdios, foi feita para ser ouvida – e não para ser lida. Fenômeno mundial, na verdade, desde Homero, porque o fonema precede a sílaba, na definição singela do meu amigo Levi Ferrari.

Além disso, nos primeiros séculos da colonização brasileira, o povo analfabeto conhecia literatura apenas pelos sermões. Mesmo os livros que vieram depois tinham o caráter de textos que um narrador lia em voz alta nos serões familiares.

Antonio Candido, no livro Literatura e Sociedade, atribuiu a Machado de Assis a virtude de ter sido um dos primeiros brasileiros a escrever para ser lido.

Antes de prosseguir, quero agradecer, em nome da União Brasileira de Escritores, a oportunidade da minha presença aqui, para divulgar a literatura brasileira e o pensamento que norteia a nossa produção literária. Em especial ao nobre embaixador Cezar Amaral e ao vice-cônsul Danilo Zimbres. Quero cumprimentar o meu confrade e amigo Levi Bucalem Ferrari e o senhor Alexander Pfeiffer, do Verband Deutscher Schriftsteller.

Mas eu falava de Machado de Assis. Ele escreveu um artigo chamado Instinto de nacionalidade em 1873. Artigo publicado no jornal Novo Mundo – não por acaso editado em Nova York, o que dá uma idéia da carência de veículos para autores brasileiros, à época – aliás, o que não difere muito da realidade do Brasil de hoje.

Em síntese, eis o que ele diz: o que caracteriza o traço de nacionalidade de uma literatura é a observação profunda da paixão e do caráter, num esforço mais denso do que a descrição de base realista, e a busca do universal, sem perder de vista aspectos como a cor local, os costumes nativos, as belezas naturais, os tipos brasileiros e o ambiente nacional. Mas sem, a cada um deles, se prender como atributo único e definitivo. Com esse “instinto de nacionalidade”, acalentava o desejo de criar uma literatura independente que forme o público.

90 anos depois, Antonio Candido retomaria a discussão, no livro “Literatura e Sociedade”, desfazendo o mito de que a obra literária possa existir desligada do seu contexto histórico-social. Recomenda que o escritor precisa estar atento para compreender as correntes, períodos e constantes estéticas. Traz à luz o papel do público, mediador entre o autor e a obra. E assevera que escrever é propiciar a manifestação alheia, em que a nossa imagem se revela a nós mesmos. O que remete a Sartre e à idéia do pacto com o leitor. Vamos lembrar que Sartre dizia que o inferno são os outros.

Neste ponto, Antonio Candido se aproxima da análise de Georg Lukács sobre o romance como gênero literário inerente à sociedade capitalista. Lukács escreveu o livro “Romance Histórico” em 1936.

O diálogo com o tempo histórico é uma tensão que se concretiza na relação entre escritor e público (aliás, o grande projeto do Romantismo era exatamente a reconstrução do passado, de acordo com Bakhtin, em sua Estética da Criação Verbal). Não existe obra literária sem o público que a aplauda, que a negue ou que a ela seja indiferente. A literatura, afirma Antonio Candido, é um sistema vivo de obras, um circuito formado pelo conjunto obra/público/autor, e que evoluiu, no século XX, para a tríade público + papel social do escritor + nacionalismo. Coisa que Machado de Assis também já antecipava em seu artigo.

Portanto, nativismo e civismo foram grandes pretextos para a justificação da atividade criadora, tendo resultado no Romantismo brasileiro.

Essa reflexão foi retomada contemporaneamente pelos estudiosos Roberto Schwarz e Carlos Nelson Coutinho, sobre a democracia e sobre as bases da literatura “nacional-popular”. Que é a decisão de agregar, à obra literária, os costumes, o folclore, as ideias e valores, enfim os elementos típicos de um povo, ou melhor ainda, dos povos.

Os escritores dos séculos XVIII e XIX trabalhavam para uma elite e, por isso, eram dependentes da ideologia dominante. Simplesmente porque o público em geral não comprava livros, e não era dado ao escritor viver da venda dos livros publicados. D. Pedro II deu grande apoio aos escritores, nessa época, por meio da prebenda e do favor imperial. A iniciativa, embora possa ser vista hoje como uma evidência do preparo e da boa-vontade intelectual do imperador, deveu-se principalmente ao fato de que interessava à casa real que o Brasil obtivesse, ao lado da independência política de Portugal, também a sua independência literária. Mas o favor imperial vinculou o escritor à administração, à burocracia e à política, e essa relação escritor/público, intermediada pelo Estado, tolheu de certa maneira a autenticidade e a qualidade das produções da época. Em uma entrevista publicada na coleção Cadernos de Debate, Carlos Nelson Coutinho se remete ao século XIX para analisar a gênese econômica da nossa história. Comenta, na cultura brasileira, evidências da “teoria do favor” de Roberto Schwarz, e o que Thomas Mann chamou de “intimismo à sombra do poder”.

Hoje ainda se mantém um pouco disso, no Brasil, haja vista a quantidade de publicações que procuram financiamento público, seja pela Imprensa Oficial do Estado, seja pelas secretarias de cultura e outros órgãos oficiais de financiamento, e pelas leis de incentivo. Ninguém se opõe a isso, porque o papel do governo é, também, o de fomentar a cultura.

O que não se pode é delegar às empresas, que escolhem a quem doar a verba contemplada pelas leis de incentivo, o papel de definir a política cultural de um país.

E mais: os autores não podem ficar sujeitos apenas às opiniões subjetivas dos críticos de literatura, a maioria deles comprometida com elementos do poder. É o que eu defendo no meu livro “Imprensa, poder e crítica”.

O que se deve fazer é encontrar fórmulas de financiamento subsidiado para autores – sob critérios rigorosos, evidentemente – a exemplo do que existe para editoras.

Apenas no início do século XX começaria a ocorrer a profissionalização do escritor, graças ao surgimento de outras elites que não a agrária, o que promoveu o surgimento da vanguarda literária. Isto porque a pobreza cultural das pequenas elites nunca permitiu a formação de uma literatura complexa, de qualidade rara, salvo poucas exceções.

Uma dessas exceções, em minha opinião, foi Euclides da Cunha. Jornalista, escreveu a melhor reportagem produzida em língua portuguesa: OS SERTÕES. Mas o livro foi mais do que uma série de reportagens. Foi um projeto estético, de cunho positivista, científico, mas pejado de análise e de crítica. A própria linguagem, escorreita e exuberante, era uma espécie de contestação ao gosto literário da época. Mas nem os seus críticos entenderam a lição. Penso que o resgate que Euclides da Cunha fez do sertanejo, que o europeizado Brasil litorâneo não conhecia, foi um dos grandes impulsos para a criação do movimento modernista de 1922.

Foi na época de Euclides da Cunha que surgiu no Brasil a moderna “estética”, ou a filosofia da arte, baseada nas obras de Kant, Hegel e Schiller, entre outros. Por esse tempo a literatura havia deixado de ter qualquer função óbvia, já que o escritor não era um trabalhador a soldo da corte, da igreja ou de um mecenas da literatura. E, se a função não era óbvia, certamente era uma função simbólica. A partir dessa ilação, para o romantismo, o símbolo tornara-se a panacéia de todos os problemas.

Machado de Assis e também Euclides da Cunha pensavam a literatura como instrumento para a formação de leitores. Para isso, contavam com os jornais como veículos da literatura. Autores famosos publicavam seus livros em fascículos semanais.

Com a industrialização do país, a escola passou a ser até uma necessidade de mercado. Com isso, mais gente foi alfabetizada e mais gente passou a ler. Isso atraiu editoras estrangeiras para o Brasil. E a publicação da literatura, em jornais, foi diminuindo.

Mas, até a década de 1940 persistiam nos jornais, pelo menos, as colunas de crítica literária. Antonio Candido, Álvaro Lins, Nelson Werneck Sodré, Nelly Novaes Coelho tratavam de literatura, numa grande fraternidade entre o escritor e o jornalista. Na verdade, como eu já disse, escritor e jornalista são variantes do mesmo talento e da mesma vocação.

Brevemente, vou perguntar - e eu mesmo respondo – qual é o papel da literatura? Não é um só. São vários.

A literatura tem um papel para a HISTÓRIA.

Por exemplo na formação das línguas e dos povos – este é o grande valor de Camões, com seus Lusíadas. Foi o primeiro livro escrito em português, como língua consolidada, e a partir desse livro a língua portuguesa ganhou consistência e identidade.

A literatura tem um papel para as RELAÇÕES HUMANAS. Assim foi com o projeto do romantismo francês: Renan Chateaubriand, com suas Memoires d’outre tombe (Memórias do além-túmulo), e o próprio Victor Hugo, com os Miseráveis.

Também nas relações humanas é de se notar a contribuição, para a literatura, do jornalismo e de suas premissas – a construção do futuro

O papel da literatura para a IDEOLOGIA é mais evidente, por exemplo na leitura para formação de seguidores. No Brasil, Oliveira Vianna, Plínio Salgado e muitos outros, em sua época, fizeram pregação racista e a favor de um estado autoritário.

O papel da literatura para a SOCIOLOGIA está na leitura para formação da nacionalidade. Acabamos de ver dois exemplos exuberantes: Machado de Assis e Antonio Candido. Mas a identidade nacional também foi o foco de autores como Gabriel Garcia Márquez, em Cem anos de solidão, e José Saramago, em Jangada de Pedra.

Não podemos deixar de mencionar, aqui, três outros romances históricos fundamentais para as Américas, na mesma época: Yo el Supremo, de Augusto Roa Bastos, em 1974, Terra Nostra, do mexicano Carlos Fuentes, em 1975, e A harpa e a sombra, do cubano Alejo Carpentier, em 1979.

E, afinal, a literatura tem o papel de propiciar o autoconhecimento, a oportunidade que o autor tem de dar um testemunho de si mesmo. Um ponto de vista individual que alcança a universalidade. Um exercício que nos revela.

E qual o PAPEL SOCIAL DO ESCRITOR?

É um papel que começa em casa, ao contar histórias para as crianças e aproximá-las do livro. Como diz o meu amigo Moacir Scliar, o livro, manuseado pela criança desde pequena, cria o símbolo associativo com a figura protetiva do pai e da mãe. O livro passa a ser amigo. E a leitura a manifestação da amizade e do acolhimento.

O que mais se espera do escritor?

Que ajude a formar bibliotecas

Que promova a interação com o livro, nas escolas

Que esteja presente junto ao seu público

Que faça, afinal, a interdisciplinaridade da literatura com as artes – o cinema, a pintura, a arquitetura etc.

PAPEL POLÍTICO DO ESCRITOR

Discutir as questões do direito autoral (escritor, tradutor, ilustrador, editoras e governo)

Denunciar (Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rubem Fonseca)

Registrar sociologicamente a realidade

Vamos refletir um pouco, agora, sobre A IDENTIDADE LITERÁRIA DO BRASIL

O Brasil teve alguns projetos para a sua literatura

- O primeiro e mais marcante, foi o indigenismo e o nacionalismo de José de Alencar e de Gonçalves Dias

- Depois veio, no rastro europeu de Eça de Queiroz, o regionalismo de Visconde de Taunay (com o livro Inocência) e o realismo de Aloísio de Azevedo (O Cortiço),

- No final do século XIX, Euclides da Cunha apresentou um projeto científico, positivista, e ao mesmo tempo um projeto estético, com Os Sertões. Foi o primeiro autor a falar do brasileiro, o povo dos sertões, sem se confinar às favelas do Rio de Janeiro, por exemplo.

- Não podemos nos esquecer da importância dos primeiros historiadores da literatura brasileiro, com seus debates e polêmicas públicas: José Veríssimo e Sílvio Romero.

- A Semana de Arte Moderna trouxe o inconformismo e a novidade: o antropofagismo, a iconoclastia, a forma livre e libertária.

- Monteiro Lobato tinha um projeto para o Brasil. Um projeto literário e político, com traços do nacionalismo gerado na Semana de Arte Moderna e que melhorava o conceito indigenista e nativista lançado décadas antes por José de Alencar. Criou personagens brasileiros da silva. Negros (como a Tia Nastácia e o velho Barnabé), animais (como o porco Rabicó e o burro falante), imigrantes (seu Elias da venda), tudo revestido da fantasia infantil mas inserido num contexto conjuntural do Brasil da época. Na literatura, especificamente na infantil, Lobato falava pela boca da impertinente boneca Emília (o seu alter-ego), cutucando os poderosos. Nesse projeto literário, tornou Emília uma espécie de Tom Sawyer tupiniquim, apostando na formação do público leitor.

- o regionalismo da geração de 45 (Valdomiro Silveira, primeiro, depois Bernardo Ellis, Amadeu de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado, J. Simões Lopes Neto, Graciliano Ramos)

- o romance metalinguístico de Guimarães Rosa não foi um projeto literário, mas representou uma tendência.

- o romance histórico - Érico Veríssimo, com o Tempo e o Vento; Rachel de Queiroz com O Quinze e Memorial de Maria Moura

- o realismo fantástico de Murilo Rubião – vários dos seus livros, aliás, foram traduzidos para o alemão, como o “O Pirotécnico Zacarias” e “A Casa do Girassol Vermelho”. E o realismo fantástico de J. J. Veiga, como Os Cavalinhos de Platiplanto, em 1959,A hora dos Ruminantes, em 1966.

- o romance sinfônico de Autran Dourado, por exemplo em “A Barca dos Homens”, numa correlação com Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez.

- a retomada do romance histórico nos anos 70 (quando passou a ser chamado de romance histórico-social), constituiu uma nova leitura da nossa identidade sociológica (Antonio Candido, Darcy Ribeiro), na onda europeia de Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, por exemplo. Para citar apenas três produções dessa época: Márcio Souza, com o carnavalizante Galvez, o imperador do Acre (de 1975), Deonísio da Silva com A cidade dos padres (1986), e Rubem Fonseca com Agosto (1990).

O que faz o romance histórico?

Recria a história oficial do Brasil pelo viés da ficção. Em duas vertentes: às vezes atualizando acontecimentos com novas informações, às vezes revisando informações.

Muitos autores, escrevendo sob regimes ditatoriais, tiveram que lançar mão de artifícios de narrativa. E aí exploraram exatamente a dialogia de Bakthin – entre a linguagem explícita e a implícita, são duas histórias sobrepostas.

No Brasil, logo depois dos anos 70, apareceram numerosos romances voltados para a recuperação e a escrita da história nacional.

o Autores contemporâneos e os romances históricos em voga no Brasil:

Laurindo Leal (1808)

Jorge Caldeira (Mauá, um magnata do império)

Fernando de Morais (Olga Benário)

Moacir Scliar (A estranha nação de Rafael Mendes)

Rubem Fonseca (Agosto)

Luiz Ruffato (Mamma son tanto felice)

Ana Miranda (Boca do Inferno)

Silviano Santiago (Em liberdade, 1981, tendo Graciliano Ramos como personagem que fala de si em um diário)

Zélia Gattai, com Anarquistas, graças a Deus

Luiz Antonio de Assis Brasil (Cães da Província)

José Roberto Torero (com o título garboso de Galantes memórias e admiráveis aventuras do virtuoso Conselheiro Gomes, o Chalaça, publicado em 1994)

Antonio Olinto, em 2001, publicou a sua belíssima trilogia Alma da África

Plínio Cabral – O mistério dos desaparecidos

Milton Hatoum - Relato de um Certo Oriente

Levi Bucalem Ferrari - O sequestro do senhor empresário

Raduan Nassar – Lavoura Arcaica

Antonio Torres – Pelo fundo da agulha

Luiz Vilela – Bóris e Dóris;

Jeanette Rozsas – Qual é mesmo o caminho de Swan?

Heloisa Nunes – Amor e desejo

Adriana Lisboa – Sinfonia em branco

Quero me deter em um romance, pelas suas características inovadoras para a época. É Galvez, Imperador do Acre (1975), do amazonense Márcio Souza. Possivelmente, o bom humor de Márcio Souza influenciou Max Mallmann, romancista gaúcho contemporâneo que escreveu Confissão de Minotauro e O Centésimo em Roma.

Pois Márcio Souza, em Galvez, o imperador do Acre, redefiniu as fronteiras do romance histórico brasileiro. Quem diz isto, num artigo bastante consistente, é Carlos Alexandre Baumgarten, professor de Teoria da Literatura na Fundação Universidade Federal do Rio Grande, RS. O artigo se chama O novo romance histórico brasileiro, e foi publicado na Revista Via Atlântica, da USP - Universidade de São Paulo. Vou resumir a análise.

Galvez é um livro metaficcional. Fala da anexação do território do Acre pelo Brasil, na virada do século XIX, uma verdade histórica. Mas, simultaneamente, desenvolve ampla reflexão sobre o processo literário nacional, principalmente por causa das referências à Semana de Arte Moderna de 1922.

Galvez é um livro burlesco. É cômico, ao gosto da narrativa de folhetim. Mas rompe com a narrativa tradicional de folhetim ao eliminar dois de seus principais traços: a linearidade temporal, por um lado, e o suspense, de outro. E elimina o suspense porque criou um narrador intrometido que aparece, de tempos em tempos, antecipando o desfecho dos acontecimentos.

Galvez é um livro paródico. Não é possível determinar exatamente a verdade histórica, por causa dos exageros e anacronismos.

O personagem é um pícaro.

A narrativa é fragmentária.

A forma é carnavalizante, com a profanação de ritos católicos.

E a natureza é intertextual – há um mosaico de citações; podemos encontrar Leonardo, de Memórias de um Sargento de Milícias, aquele que nasceu de uma pisadela e de um beliscão; podemos encontrar João Miramar, de Oswald de Andrade, e podemos encontrar até Cervantes.

Aí está o que diz o professor Baumgarten: O novo romance histórico contemporâneo vale-se do factual, mas reconta a história do Brasil pelo viés da ficção.

O estatuto dos discursos factual e ficcional desse novo romance histórico trabalha com quatro suportes: a identidade nacional, o papel do intelectual e do escritor, a voz feminina e a voz dos marginalizados. Bakhtin e Roland Barthes falaram sobre essa relação entre tempo, contexto social e discurso. E Paul Ricoeur fala do quase-personagem, do quase-acontecimento e do quase-enredo.

Para reforçar, vamos lembrar Michel Foucault: toda experiência já supõe relações de saber e relações de poder.

Há quatro questões que podem ser postas em relação a esse saber e a esse poder, na produção literária contemporânea brasileira.

- Primeira questão: não há documento cultural que não seja ao mesmo tempo um registro de barbárie (citando diretamente o crítico alemão Walter Benjamin). Pode-se citar, como exemplo, Luiz Rufatto, com o romance Eles Eram Muitos Cavalos, de 2001.

- Segunda questão: é no movimento feminino que a ação cultural e a ação política se unem mais estreitamente (a ação política, segundo Paulo Freire, é a subversão das relações de poder entre opressores e oprimidos). Um bom exemplo disso está em Lygia Fagundes Telles, em dois romances: As horas nuas e As meninas. E também Clarice Lispector, em A Hora da Estrela. São duas criadoras da nova narrativa, segundo Antonio Candido.

- Terceira questão: há um movimento impetuoso na produção de literatura da classe operária, em duas vertentes: a) uma literatura de denúncia e/ou mobilização (especialmente a urbana, com Alcântara Machado, Jorge Amado, Wander Pirolli, João Antônio, Marcos Rey e muitos outros. E b) livros de auto-ajuda. Minha tese: se o romantismo é o gênero típico da burguesia, a auto-ajuda é o gênero típico de uma classe emergente – uma classe que passou a receber mais dinheiro nos últimos anos, mas que ainda não se qualificou do ponto de vista educacional, e que por isso consome uma literatura superficial e de pouca complexidade.

- Quarta questão: a indústria da cultura leva grande parte dos críticos literários a cultivar a sensibilidade de uma minoria. Isto está também posto em meu livro Imprensa Poder e Crítica.

Na análise do conjunto dessas questões está implícita a indagação sobre o que aconteceria com Guimarães Rosa se as suas obras fossem submetidas a um formalismo crítico, fechado à história e cheio de verdades eternas.

Em suma: a crítica pode promover a redenção de um autor, ou promover a morte da literatura.

Quero lembrar o crítico inglês Terry Eagleton, que compôs esta alegoria: “Nós sabemos que o leão é mais forte que o domador, que também sabe disso. O problema é que o leão não sabe. Não é de todo impossível que a morte da literatura ajude o leão a acordar.”

BIBLIOGRAFIA

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In: http://www.ube.org.br/

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

PALAVRAS... QUE ESTRANHA POTÊNCIA, A VOSSA!

Antonio Luceni dos Santos

Mestre em Letras – UFMS, 2008

Secretaria Municipal de Educação de Araçatuba

e-mail: aluceni@hotmail.com

Resumo

O presente trabalho pretende refletir sobre a relação que nós mantemos com a palavras em nosso cotidiano, sobretudo trazendo para discussão e prática uma relação mais harmônica e profícua com ela. Nesse sentido, buscaremos retomar vivências tanto de professores quanto de alunos como forma de (re)direcionar nossas leituras, a saber, com textos estéticos. Por meio das questões/provocações pretendemos, neste artigo, pensar nossas experiências com o texto literário como um dos elementos de alívio das tensões do cotidiano escolar.

Palavras-chave: Palavras, literatura, antologia, cotidiano, provocações.

1 INTRODUÇÃO

Tudo que pensamos, imaginamos, projetamos e fazemos é por meio da palavra. Nosso pensamento não é feito de uma substância mágica que de modo também sobrenatural é encaminhado. Não. Antes, tudo que realizamos é por meio da palavra.

Quando falamos (palavras): “Como é fulano?”, obtemos como resposta (palavras), por exemplo: “Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.”2

Se quisermos retomar o passado e vivenciar este ou aquele momento de nossa vida iremos fazê-lo por meio da palavra: “Oh! que saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!"3.

Do mesmo modo, todos nossos planos futuros estão sob o domínio da palavra: “Vou-me embora pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei/ Lá tenho a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei”4.

As grandes e pequenas histórias da humanidade estão registradas por meio da palavra: O Pentateuco, atribuído a Moisés; Ilíada e Odisseia, de Homero; Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões e Macunaíma, de Mário de Andrade são alguns exemplos de (auto)identificação do povo por meio de seu repertório escrito e, especificamente nos casos ilustrados acima, estéticos, de ficção.

Tendo em vista o exposto antes e acreditando que nossa autoimagem é constituída, em partes, pela relação que mantemos com as palavras, algumas questões são necessárias. A primeira e mais óbvia é: a) Quais palavras fazem parte de nosso repertório enquanto educadores? Depois, fazendo um recorte para sala de aula: b) Quais palavras fazem parte do repertório de nossos alunos? E, por último, (mas não a última): c) Quais provocações a escola pode fazer para que tanto professores quanto alunos sejam “formados” por um melhor repertório de palavras? Fiquemos nestas questões.

2 Quais palavras fazem parte do nosso repertório?

Quando nos referimos a “nosso repertório” estamos pensando na perspectiva de educadores e de adultos que somos. Nesse sentido, também gostaríamos que as reflexões proposta aqui caminhassem nesta perspectiva: a de educadores e adultos.

Educadores retomando a nossa própria formação, as experiências que tivemos com leitura e com o livro, os autores e obras que conhecemos, os livros de que mais gostamos, aqueles que mexeram conosco, que nos pegaram no primeiro parágrafo...

Educadores a partir de nossas leituras diárias, as palavras com as quais nos identificamos diariamente, quais elegemos para fazerem parte de nosso vocabulário, do nosso “falar difícil” em reuniões pedagógicas, em palestras e aulas ministradas etc.

Educadores e nossa formação continuada, nos grupos de estudos que frequentamos, nos cursos de especialização, mestrado, doutorado etc. que temos feito ou com pretensão de fazer.

Educadores que têm um repertório de vida e de palavras mais amadurecido, mais adequado para cada uma das situações e que fazem uso da linguagem (principalmente da verbal oral e escrita e em Língua Portuguesa) de forma consciente, intencional...

Trazemos, nesse momento, a reflexão de Jorge Larrosa Bondía, quando diz:

As palavras produzem sentido, criam realidade e (...) funcionam como potentes mecanismos de subjetivação. Eu creio no poder das palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e, também, que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “racionar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem-sentido é algo que tem a ver com nossas palavras. E, portanto, também tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos. E o modo como agimos em relação a tudo isso. BONDÍA, (1999).

Concordamos inteiramente com ele porque também acreditamos no poder transformador da palavra. E não estamos tratando de nenhuma seita ou conceito transcendental, não. Estamos tratando aqui do sentido prático da linguagem. Daquela carga semântica que é atribuída a cada uma das palavras conforme a relação que cada falando, de cada povo e cultura, depositou nela através dos séculos e séculos. Por essa razão quando dizemos para alguém “Eu te amo” isso deve estar cheio de sentido de verdade; quando falamos “Deus o abençoe” que seja tudo isso que entendemos e desejamos por “Deus” e “benção”; assim como quando pensarmos em “desgraçado” ou “amaldiçoado” compreendamos, antes, que sentimentos e sensações estas palavras despertarão no atingido por elas.

O que é mais gostoso ouvir?:

“Amor: 1. afeição profunda; 2. objeto dessa afeição; 3. Conjuntos de fenômenos cerebrais e afetivos que constituem o instinto sexual; 4. Coisa ou pessoa bonita, preciosa; 5. Afeto a pessoa ou coisa; 6. Relação amorosa; 7. Entusiasmo, paixão; 8. Inclinação sexual forte por outra pessoa; 9. A pessoa amada; 10. Cobiça; 11. Veneração; 12. Caridade.” (RIOS, 1999).

Ou:

“Amor é fogo que arde sem se ver,/ é ferida que dói, e não se sente;/ é um contentamento descontente,/ é dor que desatina sem doer./ É um não querer mais que bem querer;/ é um andar solitário / entre a gente;/ é nunca contentar-se de contente;/ é um cuidar que ganha em se perder./ É querer estar preso por vontade;/ é servir a quem vence, o vencedor;/ é ter com quem nos mata, lealdade./ Mas como causar pode seu favor/ nos corações humanos amizade,/ se tão contrário a si é o mesmo Amor?” ?(CAMÕES, 2004).

Não gostaríamos de direcionar as respostas, mas certamente o segundo texto é muito mais atrativo. E o interessante é que em ambos os casos o objeto de discussão é o AMOR. É bem verdade que necessitamos dos dois textos. Não cabe aqui excluir um e deixar com que o outro “reine soberanamente” em nossas mentes ou de nossas crianças e adolescentes. Por isso mesmo, o contrário também vale. Por vezes aplicamos uma “overdose” de textos técnicos em nossas salas de aula e o texto estético, de ficção, a poesia... aparecem como “perfumaria”, “pano-de-fundo” para uma “grandeloquente estrela”, personagem principal.

Então, quais palavras fazem parte de seu repertório? Como você se relaciona com as palavras diariamente? Seu vocabulário é um “quase-robô” (com palavras “secas”, mecânicas, pobres de significados...) ou é um solo fértil em que há possibilidades de sensações e significados? Precisamos “engravidar”5 as palavras...
2 Quais palavras fazem parte do repertório de nossos alunos?

É a outra ponta, não é mesmo? A sala de aula é feita, principalmente, por esta alquimia: professor e aluno. É dessa relação que as coisas acontecem (para o bem ou para o mal). É para esta relação que está dedicada a maior parte da carga horária dos 200 dias letivos, das pontes e feriados (ou você não corrige provas e prepara atividades nesses dias?!), das comemorações e festas escolares... Então, é esta relação de pessoas-palavras que merece as atenções, as leituras, as palavras...

É lógico que não devemos generalizar. Também não temos nenhuma base científica para afirmar categoricamente o que vamos dizer. Mas partindo da experiência que temos em sala de aula e também de depoimentos que ouvimos, lemos e vemos diariamente por meio de jornais, revistas, blogs, televisão, escolas etc. não é difícil concluir que muito, infelizmente, do que é dito, escrito e pensado por nossos alunos (e estamos falando de crianças, adolescentes e jovens) é atravessado de maledicência, de aspereza, de truculência e de depreciação para ficar nos adjetivos mais comportados.

No tratamento que dispensam, em grande parte, uns para com os outros, na maneira como muitos respondem (às vezes agridem) professores, coordenadores e diretores, nas palavras que registram em carteiras, cadeiras, portas e paredes, muros e fachadas, cadernos e livros... fica claro que universo de palavras os constituem. Um cenário bastante ruim, em minha opinião.

Certa vez estava saindo de uma das escolas municipais de Araçatuba e, ao entrar no carro, ouvi a seguinte frase de uma criança para outra: “Para com isso, sua desgraça.”. Fiquei chocado com aquilo porque nunca gostei desta palavra: DESGRAÇA. Sempre que a ouvia me incomodava. Não gostava de pronunciar e nem de ouvi-la. Parei o carro ao lado dos dois meninos e disse para que não repetissem mais aquilo.

Comentei num grupo de estudo no outro dia e minha amiga, diretora da Rede Municipal, Elis Avelhaneda, conseguiu me acalmar: “Antonio, pense em DEZ GRAÇAS!”. Ela nem sabe, mas me salvou! Arrumou um jeito de eu me relacionar com essa palavra. Hoje, sempre que a ouço penso em DEZ graças.

O exemplo é simples, por isso convidamos você a pensar nas palavras que tem ouvido e lido de seus alunos, quais palavras que os constituem, qual carga (se positiva ou negativa) predomina na formação dessas crianças.

É lógico que outras questões orbitam nessa, como a que formação estas crianças estão submetidas, a que condições sociais vivem cada uma delas, a que oportunidades tiveram acesso de leitura, de saberes, de palavras... É por isso que antecipamos no começo deste artigo que não seriam somente três perguntas que resolveriam o problema. Mas não cabem aqui serem discutidas. Não temos tempo para isso. A provocação é no sentido de constatação. Ou seja, precisamos oferecer um novo repertório de palavras para nossas crianças diferente dos que elas já têm.

Aí passamos para terceira (mas não última!) pergunta.
3. Quais provocações a escola pode fazer para que tanto professores quanto alunos sejam “formados” por um melhor repertório de palavras?

Na primeira pergunta deste artigo propusemos um primeiro olhar para a própria formação do professor, seu cotidiano com a leitura, com as palavras, o modus operandi utilizado por ele para se relacionar com os textos, principalmente os estéticos. Na segunda questão buscamos pensar um pouco sobre o universo da palavra no universo da escola, da vida do aluno e, a partir desses universos, estabelecer a relação entre eles. Nesta terceira questão estamos propondo uma PROVOCAÇÃO. Sim, porque entendemos que muito do que é bem feito nas escolas e salas de aula brasileiras é resultado de uma provocação, de um desafio.

Como diria Monteiro Lobato, “Livro é sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês.”. E o que é por “debaixo do nariz” se não uma provocação? Neste ponto envolvemos os vários personagens-participantes da escola: diretor, coordenador, professor, funcionários, gestores, pais de alunos, comunidade com um todo... no sentido de serem PROVOCADORES. Quais provocações temos feito com relação à palavra, à leitura?

O professor pode provocar o aluno com a palavra selecionando um livro, um poema ou qualquer outro texto (de preferência literário/estético/poético) para iniciar e/ou terminar a aula. Pode selecionar um dos dias da semana para fazer um “pique-nique literário” ou uma discussão a partir de textos de que alunos mais gostaram de ler durante o mês.

O coordenador pedagógico pode provocar professor e alunos discutindo projetos e propostas para o uso de cantos de leitura nas salas de aula, no uso da biblioteca, numa olimpíada de leitura ou no convite de avós ou pessoas da comunidade ao entorno da unidade escolar para contarem histórias para as turmas ou até mesmo alunos mais velhos contando histórias para os mais novos.

O diretor pode ser um grande provocador de leitura e de palavras ao comprar bons livros mensalmente a partir de lista apresentada por professores e alunos, na solicitação de verbas para construção, ampliação ou adequação de bibliotecas, salas de leitura, treinamento de pessoal, adequação de mobiliário etc. etc. etc. Pode, também, com coordenadores, professores e comunidade em geral, traçar ações e propor metas para a apreensão de habilidades e competências leitoras nos Planos Políticos Pedagógicos, nos Planos de Cursos, Planos de Aula e Semanários, nas discussões que fazem parte das HTPCs (Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo) e HTPPs (Horas de Trabalho no desenvolvimento de Projetos e Pequisas), ou seja, PENSAR e PLANEJAR ações de leitura que tenham vazão a curto, médio e longo prazo e que tenham METAS e PROPÓSITOS distintos para cada uma das séries que compõem a Educação Infantil e Ensino Fundamental contempladas em nosso Sistema Municipal de Ensino.

Como podemos observar, as provocações podem ser muitas e feitas pelas várias personas que (inter)agem com e na escola.
3.1 Algumas provocações literárias...

Como forma de dar o exemplo, sugiromos abaixo algumas obras e seus respectivos autores. São sugestões de gêneros variados e para os mais diferentes gostos (quem quiser provar de tudo, fique à vontade!). Claro que é somente uma provocação... Quão difícil para um leitor voraz sugerir títulos, autores, textos... Mas certamente aí vão algumas leituras que, sem dúvida, de algum modo irão seduzir quem quer que entre em contato com elas. Como deixa José Paulo Paes no subtítulo do livro É isso ali6, (outra provocação!) textos adulto-infanto-juvenis.

Pegue cada um deles. Leia-os saborosamente. Deguste cada uma de suas palavras, misture os sabores delas, forme novos sabores, coloque mais este ou aquele tempero, deixe gelar por um tempo (tem palavras e textos que precisam ficar um tempo “na geladeira” para serem saboreado de forma mais gostosa). Faça a sua sobremesa, coma-a, partilhe-a, coloque-a debaixo de muitos narizes!
Título/Autor/Editora

O menino que descobriu as palavras/ Cineas Santos/ Ática
Guilherme Augusto de Araújo Fernandes/ Mem Fox/ Brinque Book
É isso ali/ José Paulo Paes/ Salamandra
19 poemas desengonçados/ Ricardo Azevedo/ Ática
Dona Baratinha/ Ana Maria Machado/ FTD
Menina bonita do laço de fita/ Ana Maria Machado/ Ática
Uni, duni, tê/ Ângela Lago/ Moderna
O pequeno príncipe/ Antoine de Saint-Exupéry/ Agir
A casa sonolenta/ Audrey Wood/ Ática
Coração não toma sol/ Bartolomeu Campos de Queirós/ FTD
As palavras voam/ Cecília Meireles/ Moderna
A vida íntima de Laura/ Clarice Lispector/ Rocco
O tesouro na rua/ Cristovam Buarque/ Rosa dos tempos
Nós/ Eva Furnari/ Global
A fada que tinha ideias/ Fernanda Lopes de Almeida/ Ática
Um gato chamado gatinho/ Ferreira Gullar/ Salamandra
A terra dos meninos pelados/ Graciliano Ramos/ Record
O menino poeta/ Henriqueta Lisboa/ Global
Pode me beijar se quiser/ Ivan Ângelo/ Ática
Alice no País das Maravilhas/ Lewis Carroll/ Summus
A bolsa amarela/ Lygia Bojunga Nunes/ Casa Lygia Bojunga
O fazedor de amanhecer/ Manoel de Barros/ Salamandra
A moça tecelã/ Marina Colasanti/ Global
O homem que soltava pum /Mário Prata/ Caramelo
O batalhão das letras/ Mário Quintana/ Global
Cacho de histórias/ Eliardo França/ Mary e Eliardo França
O menino do dedo verde/ Maurice Druon/ José Olympio
Nó na garganta/ Mirna Pinsky/ Brasiliense
Reinações de Narizinho/ Monteiro Lobato/ Brasiliense
O fantástico mistério de Feiurinha/ Pedro Bandeira/ FTD
Viva a diferença/ Roberto Caldas/ Paulus
A galinha xadrez/ Rogério Trezza/ Brinque Book
Classificados poéticos/ Roseana Murray/ Nacional
O menino que quase virou cachorro/ Ruth Rocha/ Melhoramentos
33 ciberpoemas e uma fábula virtual/ Sérgio Caparelli/ L&PM Editores
O peru de peruca/ Sônia Junqueira/ Ática
Chora não...!/ Sylvia Orthof/ Atual
Cançãozinha e outros sons/ Tatiana Belinky/ Paulinas
Layla Terezinha/ Alvarenga/ Miguilim
A arca de Noé/ Vinicius de Moraes/ Companhia das Letras
A cortina da tia Bá/ Virginia Woolf/ Ática
Flicts/ Ziraldo/ Melhoramentos
É lógico que você precisará de algum tempo para ler todos estes livros. Mas, com certeza, você já provou de alguns deles, não é mesmo? Que sabor teve? Como foi a experiência? Você o partilhou com seus alunos ou com outros colegas da escola, da família, da sua relação de amizades? Como é dividir palavras gostosas? Palavras que fazem bem tanto para quem fala quanto para quem as ouve? Será que as crianças, adolescentes e jovens gostariam de ouvi-las? Será que depois também não irão partilhá-las? Dividi-las com suas famílias e amigos, com as pessoas de seu bairro? Será que quando precisarem resgatar e oferecer alguma palavra terão repertório para isso? Pensamos que sim.
4. Considerações finais
Quando tomamos consciência de que nossa relação com a palavra é algo corriqueiro e constante, também nos apropriamos da importância de se relacionar com ela (ou com as várias palavras que compõem nosso cotidiano) de forma mais profícua e corroborativa.

Pensar no espaço escolar (também) como um espaço privilegiado para o tratamento e uso de palavras a partir de textos que circulam nos bancos, pátios e outros ambientes escolares é dar condições para que os vários agentes educativos (gestores, professores, alunos, familiares etc.) se revistam de um repertório que ajude o outro, que o estimule à reflexão, que sensibilize para temas importantes a partir de universos distintos, de expectativas particulares, de experiências significativas etc.

Relacionar-se com a palavra sob múltiplas maneiras é também atender às necessidades comunicativas da própria língua: para cada situação um uso, para cada intenção uma seleção específica. Se possível, os textos de ficção e poesia, já que, a nosso ver, há pouco espaço (apesar dos avanços) ainda para eles e porque são os que mais dão espaço ao poder das palavras.

Dito de outro modo, propusemos ao longo deste artigo pensar na relação que mantemos com as palavras, inclusive e, até certo ponto, principalmente na escola, visto ser um dos poucos (e para alguns único) locais em que há oportunidade de se tratar deste tema, as possibilidades de uso da palavra.

Esperamos que as reflexões aqui levantadas sirvam, como indicado no começo, para provocar outras, para ampliar repertórios, para propiciar o diálogo (ou os diálogos) referentes ao tema e que, de forma muito prática e objetiva, partamos para AÇÃO.
5. Bibliografia

RIOS, Dermival Ribeiro. Minidicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: DCL, 1999.

CAMÕES, Luis Vaz de. Sonetos de Luis de Camoes. Lisboa: Assírio & Alvim, 2004.

BONDÍA, Jorge Larrosa. Pedagogia profana. Belo Horizonte/MG: Autêntica, 1999.
Referências:

1 Título baseado em verso do poema Romance LIII ou Das palavras aéreas, de Cecília Meireles, in: Romanceiro da Inconfidência, 1ª edição, Ed. Nova Fronteira, 2005.

2 Trecho do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, 1ª edição, LP&M Editores, 1997.

3 Versos do poema Meus oito anos, de Casimiro de Abreu, in: Casimiro de Abreu – obra completa, 1ª edição, Ed. G. Ermakoff, 2010.

4 Versos de Manuel Bandeira, do poema Vou-me embora pra Pasárgada, in: Manuel Bandeira – Poesia Completa e Prosa, 1ª edição, Ed. Nova Aguilar, 2009.

5 Referência a um termo cunhado pelo educador Paulo Freire quando dizia que as palavras deveriam ser semeadas pelo mundo, “mas não quaisquer palavras, mas as grávidas de mundo”, presente no livro Dicionário Paulo Freire – Danilo R. Streck (org.), 2ª Edição, Ed. Autêntica, 2008.

6 É isso ali, José Paulo Paes, 2ª edição, Ed. Salamandra, 2005.

FOLHA DE S. PAULO ENTREVISTA MENALTON BRAFF SOBRE V CONGRESSO BRASILEIRO DE ESCRITORES


Ribeirão Preto resgata UBE de Mário de Andrade


Folha de S. Paulo entrevista Menalton Braff sobre o V Congresso Brasileiro de Escritores

19.01.2011

Cidade resgata UBE de Mário de Andrade

Entidade de escritores, que já atraiu nomes como Sérgio Milliet e Oswald de Andrade, fará congresso em Ribeirão

Liberdade de expressão, tema de 1945 e 1985, ainda está ameaçada e mantém-se na pauta, afirma Menalton Braff

JULIANA COISSI

DE RIBEIRÃO PRETO

Em 1945, no primeiro governo Getúlio Vargas, escritores como Oswald de Andrade, Jorge Amado e Sérgio Milliet redigiram um protesto pelo livre pensamento. Quarenta anos depois, o teatro

Sérgio Cardoso, na capital, ficou lotado para um desabafo coletivo pelo fim da ditadura.

Após um lapso de 25 anos sem nenhum encontro, a UBE (União Brasileira dos Escritores), que teve Mário de Andrade como um dos fundadores, escolheu Ribeirão Preto para retomar a tradição de realizar congressos.

A 5º edição do Congresso Brasileiro de Escritores deve ocorrer na cidade entre os dias 12 e 15 de novembro, com a expectativa de reunir cerca de mil cronistas, romancistas, ensaístas e contistas de todo o país.

Moacyr Scliar, 73, colunista da Folha, se recorda do sentimento de fim da opressão compartilhado no último congresso, em 1985.

"Eu me lembro de escritores falando a favor da liberdade de expressão. Congressos como esse, na época, tinham uma importância muito grande, porque ainda era o fim da ditadura."

Mais cético, o escritor Ignácio de Loyola Brandão resumiu o evento de 1985 mais como um "alívio" pelo fim da repressão do que um debate frutífero de ideias.

Menalton Braff, 72, hoje diretor de integração nacional da UBE, recorda-se até de intervenções artísticas em meio ao debate. "Um escritor do Piauí quis declamar sua poesia, e começou uma briga entre os que diziam que isso não estava na pauta."

O primeiro e mais célebre dos congressos, o de 1945, marcou-se como um protesto pela opressão do Estado Novo (leia texto ao lado).

CENSURA MORAL

Apesar da distância de 65 anos do primeiro encontro, um tema ainda parece ameaçado e se mantém na pauta: a liberdade de expressão.

Se a censura política cerceou o ofício da escrita no passado, é a censura moral que recai hoje sobre a literatura, segundo Menalton.

Prova disso, diz, foi o veto pelo MEC à obra "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, e pais que chamaram de pornografia obras de Loyola Brandão e Cristovão Tezza lidas na escola.

Ribeirão Preto, Domingo, 16 de Janeiro de 2011

MEMÓRIA

Em 1945, 1º congresso teve cunho paulista

DE RIBEIRÃO PRETO

Talvez o professor Antonio Candido, arrisca Menalton Braff, seja um dos únicos escritores ainda vivos a participar de todos os congressos da UBE -desde o mais célebre, de 1945.

O espaço escolhido foi o Teatro Municipal de SP. Nada mais natural para um grupo até então apenas de escritores da capital, da antiga Sociedade Paulista dos Escritores.

Em 22 de janeiro, Oswald de Andrade, Sérgio Milliet e outros redigiram o manifesto exigindo a legalidade democrática, "garantia da completa liberdade de pensamento", segundo um trecho. Naquele ano, findava-se o Estado Novo de Getúlio Vargas.

O segundo encontro foi dois anos depois, em BH. Em Salvador, no congresso de 1950, a sigla UBE se consolidou como entidade nacional. Seriam 35 anos de silêncio até o quarto e último encontro, em 1985.

NOTA: notícias da União Brasileira dos Escritores em Ribeirão Preto http://uberp.blogspot.com/


in: http://www.ube.org.br/

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

MENSAGEM DA UBE PARA A MINISTRA DA CULTURA


Da sede da União Brasileira de Escritores - UBE - São Paulo, capital.



Ana de Hollanda foi empossada no dia 3 de janeiro para substituir o Ministro Juca Ferreira.


04.01.2011


A União Brasileira de Escritores rejubila-se com a nomeação da Sra. Ana de Hollanda para a pasta da Cultura, artista vocacionada e com história exemplar na área.


Lamento não poder estar presente à posse da Sra. Ministra para apresentar, com os meus aplausos, a expectativa dos escritores brasileiros de merecerem inclusão privilegiada na agenda cultural do país, para cujo desenvolvimento e consolidação trabalhamos e produzimos.


Na oportunidade, ressaltamos a nossa disposição em prosseguir os trabalhos iniciados em 2010, em especial a participação do Brasil na Feira Internacional do Livro de Frankfurt de 2013, como país homegeado.


Que se cumpram os nossos vaticínios de sucesso e realizações para a Sra. Ministra Ana de Hollanda, a quem deixamos nossos especiais e respeitosos cumprimentos.






Joaquim Maria Botelho
União Brasileira de Escritores
Presidente