quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ÚNICO *


A admiração, capacidade que nos enche de encantos, é acompanhante das impressões que a razão provoca em nós. Pena que ao longo do tempo o que é natural se veja coberto pela sensação de normalidade e perca a aura da singularidade.
Aquilo em que custamos crer, o fantástico, fantasticamente permanecerá inexplicável e atraente. Se tardamos a descobrir fantasia no trivial, é essa a arte do verdadeiro escritor.
O mistério pode e deve estar no palpável, tátil, crível, no aspirável como inspirável, no habitual: na literatura como na família.
            Família e literatura têm em comum servir de suporte às humanidades, e ambos têm tudo a ver com escolhas pessoais e desfecho. Cada trilha num livro, como os caminhos na vida, conduz a um determinado final. E, por essa semelhança, vivemos do aguardar desfechos, desejando-os sempre melhores.
Nos enredos das letras de toda arte, como em cada vida, nem sempre o final será o que gostaríamos. Isso acontece porque ali colocamos expectativas pessoais, numa visão diminuta de mundo. Se ampliarmos o foco veremos que o bom final é próprio do universo. Assim como determinada literatura, mesmo no amargo desfecho, traz anseios e certezas de construção positiva, porque não se trata do indivíduo, mas do todo.
Todos nós temos história. Se para muitos basta a alegria de vivê-las, para outros há que contá-las por escrito. São tantos os livros com histórias familiares que o tema por si daria uma bela análise de doutorado: o modo como a edição se apresenta por vontade do autor, razões de publicação, a linguagem ali privilegiada na tentativa do formal, ou do informal.
É evidente que, por mais razões pessoais que justifiquem qualquer edição, escrever um livro brota do tradicional: é tentativa de imortalizar-se. É como ter um filho, ou plantar uma árvore (nem falemos de Araçatuba, cidade esquecida das razões da clorofila e do oxigênio, isso é assunto para tratado político).
Se nem todos querem plantar árvores, e as boas gráficas hoje têm projetos de sustentabilidade na área, que bom que as possibilidades de impressão se popularizaram.
Falemos dos araçatubenses: Maria Luisa de Paiva Afonso era poetisa. Seus sonetos, imprecisos na métrica e certeiros nos bons sentimentos, contam histórias e emoções familiares que poderiam pertencer a muitos. A autora de “Ecos de minh’alma” foi mulher vibrante, apaixonada e caridosa que retratou-se em poemas como nas cartas amigas, imprimindo-se nas saudades deixadas.
Publicações familiares andam há tempos nas lides e predileção de munícipes. O cidadão daqui é recente, a cidade tem apenas cem anos. Porém, o que aqui se vive veio de longe, e como toda história basta buscar.
Então em “Histórias de família”, o engenheiro, filho de Maria Luisa, como ela não contagiado pelo ‘fiz, portanto sou’, veio surpreender. A publicação despretensiosa e merecedora de menção e leitura, descreve situações de formação de Brasil na vinda e permanência de antepassados e suas “Bandeiras” particulares.
Os desbravamentos e os transformares de ascendências em brasilidades assumidas, veio pelas mãos de Adriano. Pesquisando a origem dos próprios sobrenomes, ele apresenta as famílias Silva, Paiva, Alves Lima e Affonso de Almeida que mesmo, em capítulos assim separados, sob o arrimo de uma intenção genealógica, se leem de um fôlego.  
Paiva Afonso, o autor, deixa para as próximas gerações um livro que celebra, por sua ascendência, muito dessa história de Brasil que desaguou no Tietê do noroeste paulista.
Por que é tão interessante? Difícil precisar. De toda forma “Histórias de Família” é um agradável legado, que com seus muitos desfechos de conjunto demonstra o quanto somos únicos.

*Cecilia Ferreira




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