terça-feira, 20 de setembro de 2011

O portão


Ana de Almeida dos Santos Zaher



Portão aberto ou fechado. Um sinal nítido, uma lembrança viva e permanente que nos traz muitas saudades. Deixando claro que não temos mais liberdade.

E não adianta negar, fugir, a realidade está diante de todos, não tem como deixar de ver. Nem mesmo se fecharmos os olhos.

Há muito tempo atrás, não precisavam de cercas, muros. Portanto não havia necessidade de portão. Hoje ele é bastante útil, mas não significa que temos privacidade.

Adquirimos o hábito de agarrar neste objeto como amuleto da sorte, cheios de correntes e cadeados.

Nós nos enganamos, como se fosse o pirulito das crianças ou a chupeta, que acalma e engana. Fazendo a gente dormir, tranqüilos, e em paz.

Assim adormecemos, deixando também adormecidas a certeza que não temos mais segurança.

E cada vez mais, vamos colocando acessórios no nosso próprio pescoço, algemas nas mãos e uma carranca no rosto, demonstrado ares de poucos amigos.

Mas, já temos muitos exemplos de pessoas boas, que não são poupadas da maldade, imaginam as consideradas intragáveis.

Apesar de saber que a esperança é mesmo a última que morre, infelizmente dói, conferir que existe mesmo caminho sem volta.

Nem mesmo eu que sempre espero uma luz no fim do túnel. Mesmo a consciência tentando ser forte. Não tem um esconderijo.

Tento me livrar dos pesadelos, mas vivo em busca de respostas, ainda me lembro da minha infância livre.

Não vivo sob tortura, mas rio e choro só, as lembranças ainda vivem; das brincadeiras de bola, queimadas, pega- pega e bandeirinhas.

A mente não consegue desfazer as imagens únicas e intransferíveis. É inevitável não se perguntar, quem ou como começou as prisões.

Foi tudo muito rápido, e nos dias atuais, sinto muita pena das crianças, que mal chegam ao mundo. A coleira é sua primeira visita.

Choram se debatem até que suas forças cessam. Longo vão ter ciência que o caminho é longo. Por mais que corra não tem como escapar.

Portões imensos, cercas elétricas, arames farpados, muros altíssimos.

Observando a correria das pessoas, da minha janela vi, inúmeros corações sofridos, fechados de tal maneira que eu podia sentir as faíscas, o curto circuito.

Os animais estressados como os donos. Ás árvores sendo arrancadas para facilitar a visão, no caso da aproximação de estranhos na propriedade.

Também vi uma menina que deveria ter uns cinco anos, atravessar a rua sozinha e o carro se aproximava. Arrepiada, desesperada, não tinha o que pensar. Gritar não ia resolver, tive sorte.

Na minha casa não tinha portão corri e graças a Deus, deu tempo.

E o melhor; salvei duas vidas...

Ana de Almeida dos Santos Zaher é escritora, membro da União Brasileira de Escritores - UBE.

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