sábado, 9 de julho de 2011

Nem tudo são livros na Flip

Hélio Consolaro

Participar da Flip é uma aventura, mesmo antes de chegar a Paraty. O primeiro desafio é comprar ingressos para  as palestras via internet. Muitas conferências tiveram a venda esgotada no primeiro dia, 6 de junho.

Caso não consiga assistir ingresso para assistir presencialmente a conferência, vende-se ingresso a R$ 6,00 para assistir pelo telão, numa grande tenda. Aqui tudo é provisório, realizado  em tendas. Esses ingressos também são vendidos pela internet e se esgotaram rapidamente. 

Estranho mesmo  é esgotar a venda de ingressos pela internet para determinado evento, mas abre-se a oferta novamente aqui. Não sei se é erro de organização ou apenas parte dos ingressos são disponibilizados pela rede de computadores.

Além da programação oficial, há as paralelas. Na  sexta-feira, 8/7/2011, 11h, a Casa Folha (uma  casa onde o jornal Folha de São Paulo) promove encontro de leitores com seus colaboradores, como: Laerte, Ferreira Gullar, Xico de Sá, Contardo Calligaris, Fernando Rodrigues. Houve na quinta-feira, 7/7, um debate sobre Literatura e jornalismo cultural.

O MALA

Parte da turma foi ouvir o poeta Ferreira Gullar. A Casa Folha é um lugar em que cabem 50 pessoas, havia 200. Gente pisando em gente. Atrasou por 30 minutos.

Contou toda a sua história. Ser sobrevivente da ditadura militar dá ibope, então, lá vai conversa. Na verdade,  eu estava lá porque meu amigo Tito Damazo queria entregar ao Ferreira Gullar o livro que escreveu sobre o poeta, um trabalho acadêmico. E também gostaria de pegar um autógrafo num volume da 5.ª edição do Poema Sujo, editado pela Civilização Brasileira.

Ferreira Gullar já tinha recebido a dissertação há algum tempo, mas não em forma de livro. O sonho era dizer:
- Está aqui, mestre, um livro que fala sobre você!

Como eu e o Tito nos hospedamos no mesmo quarto, percebi que aquele momento seria apoteótico, como um estudante juvenil, se preparou para o momento. Tenho comigo que conhecer o ídolo de perto é um desastre, porque quase sempre ele não é aquilo que imaginamos. E o aforismo foi comprovado.

Ferreira Gullar, na verdade, é um porra-louca que deu certo. Aliás, nós, artistas, somos todos assim, mas há gente que vence pela idade. Outros viram mito porque morreram cedo. Ele está um mala e, atualmente, tem idéias de jerico e faz questão  de expressá-las.       

Então, caro leitor, o Tito, com aquela timidez que lhe é peculiar, não avançou, não atropelou ninguém. Deixou para entregar educadamente o livro no fim da palestra. E eu com a câmera digital para registrar o momento.

Não entregou, porque não ficou no final para  a rodinha de conversa com os admiradores, deu as costas, foi embora, assessorado por um jornalista da Folha. Parou na travessia da rua para dar entrevista a um canal de televisão, mas renegou o contato pessoal. Deixou meu amigo Tito Damazo falando sozinho.

Quantas noites maldormidas, quanta pesquisa sobre o poeta para receber aquele tratamento. Tito Damazo ainda quis justificar tal atitude, dizendo que o poeta é um octogenário, etc. mas não me convenceu. Ferreira Gullar está  firmão, inteiro. 

Nada foi  feito de propósito, mas todo escritor  deve cultivar  seus leitores e admiradores, não tem o  direito de ser mala.
Nem tudo  na Flip são  livros. Há muito dinheiro rolando e egos inflados em demasia.






Hélio Consolaro é jornalista e escritor, membro da UBE, Núcleo Araçatuba e região.

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