Wanilda Borghi
Na festa da realeza, conversavam os ingredientes da salada, sobre a mesa.
Dizia assim o Jasmim:
─ Não sei se fui rebaixado ou se subi de posto, senão vejam: nem bem estamos em agosto, e eu aqui, misturado a alimentos. Antes era escalado para adorno. Sem falar no perfume que tenho.
─ Quem disse que você é comestível, completou o Ibisco.
De lado, cabisbaixo, estava o azeite. Alguém com ele listara as folhas da travessa. Alguém, não sei se com raiva ou pressa. Fato é que ele, o azeite, estava tristonho.
─ Acho que presenciei boa parte da conversa, disse o Tomate.
─ Estava ele de amores com a Senhorita Alface. Mas, creio, se desentenderam. Ela, calma, em suas nuances de verde, recitava poemas narcisos, enquanto ele, apaixonado, se desmanchava em sorrisos.
─ Mas eis que ela viu o agrião. E passou a alfinetar seu antigo enamorado:
─ Sou o princípio, a origem, a primeira da fila. Nada existiria sem mim.
Ele, azeite, Ômega, sequer murmurava. Em seu silêncio, sua reflexão ecoava: fim da linha, fim da linha. Até que rodopiou e com esse impulso a fila empurrou.
Revigorado e fortalecido, pode então responder-lhe:
─ Eu, como fico na rasteira, não tenho essa sua pose altaneira, mas exerço muito bem minhas funções:
─ Sou eu quem dá brilho à salada e quem lhe tonifica o coração.
Mas ela, ali, encimesmada, - afinal era dia de festa -, escondia a lisura de sua fala do dia a dia a sós, com ele, enquanto lhe interessou conquistar-lhe a companhia. E continuou com seus insultos:
─ Só lhe resta segurar, literalmente, as pontas. A ponta última, porque eu enfeito a primeira, a principal.
No auge da discussão, eis que alguém, desastrado, derruba na salada, um pouquinho de feijão; o suficiente para enfeiar o prato, que rapidamente foi levado para os fundos.
Veio pra mesa, outro tipo de salada que exigia diferente tempero.
Moral da história? Deu zebra: venceu a coluna do meio.
(1856)
Wanilda Borghi é Membro da União Brasileira de Escritores - UBE e representa o Grupo Experimental da AAL no CMPCA.
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